R.I.P.
Houve lágrimas, porque um tal Liedson abandonou o Sporting e foi jogar para o Brasil. Também eu me fartei de chorar por causa desse rapaz, exactamente porque eu e 95 por cento dos portugueses teríamos de trabalhar duas vidas inteiras para ganhar o que ele vai ganhar em dois anos. Há também um tal Mourinho, que comprou uma casa por um milhão e meio de euros, um certo Ronaldo, que dispensou 140 mil euros para umas bebidas com os amigos e o pseudo-actor Angélico Vieira que gastou 170 mil euros no carrinho dos seus sonhos. Tudo isto seria normal se não estivéssemos a viver a pior crise desde a implantação da República. Por isso, tudo isto me parece escandalosamente pornográfico porque há, sobretudo, uma enorme falta de respeito por quem trabalha e não consegue passar da cepa cada vez mais torta.
Os portugueses normais, que não são amigos dos políticos nem são futebolistas, estrelas de Hollywood ou treinadores-maravilha, ganham menos, pagam mais pela sua sobrevivência e terão de continuar a cumprir os seus compromissos. Os doentes, a viverem dessa esmola que se chama reforma, têm de desistir das consultas médicas porque são eles quem paga as despesas de deslocações aos hospitais e centros de saúde. Quarenta mil professores serão despedidos, devido à reestruturação do ensino básico e secundário. Comerciantes continuam a fechar as portas das suas lojas e restaurantes porque não aguentam o peso dos impostos. Os direitos dos cidadãos, consignados na Constituição da República Portuguesa, são vilipendiados todos os dias.
Ah! Mas somos um país moderno! Temos Magalhães, temos abortos autorizados, consumo de droga liberalizado e casamento entre cidadãos do mesmo sexo. Nada contra. Mas, antes destas, eram urgentes terem sido tomadas decisões em campos menos fracturantes e mais úteis à sociedade. Que se rasgue, pois, a Constituição. E que se enalteçam essas imagens, essas sim, verdadeiramente fracturantes, de pessoas chamadas Mourinhos, C. Ronaldos e outros assim.
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